O problema proposto e a
forma com que se buscou a solução nos permitem fazer uma indagação: a quem cabe
a responsabilidade pela educação dos filhos, aos pais ou à escola?
O Estatuto da Criança e do
Adolescente, muito sabiamente, consagra em seu artigo 19 que toda criança ou
adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família. E digo
que é sábia essa norma porque penso que os pais são os principais educadores de
seus filhos. E isso é assim porque existe uma relação natural entre paternidade
e educação. A paternidade consiste em transmitir a vida a um novo ser. A
educação é ajudar a cada filho a crescer como pessoa, o que implica em
proporcionar-lhes meios para adquirir e desenvolver as virtudes, tais como a
sinceridade, a generosidade, a obediência, dentre muitas outras.
Os filhos nascem e se educam
em uma família concreta. A família é uma atmosfera que a pessoa necessita para
respirar. Entre seus membros costuma haver laços de afeto incondicionais que
fazem um ambiente propício para que a educação se desenvolva. Nesse sentido, é
ela essencial para a formação da pessoa. Os valores que se cultuam no lar irão
marcar de forma indelével o homem e a mulher da amanhã.
Muito bem, mas se a função
primordial na educação cabe aos pais, o que compete à escola? Ou, mais ainda,
como essa pode ajudar os pais na educação dos filhos?
É natural que os pais
deleguem algumas funções educativas à escola, como por exemplo, o ensino das várias disciplinas
apropriadas a cada faixa etária, mas daí não se pode concluir que possam
abandonar essas funções delegadas. Aliás, somente se delega aquilo que é
próprio. E em sendo delegada tal atribuição, cabe aos pais acompanhar como está
sendo desempenhada.
Um ponto essencial nessa
relação entre os pais e a escola é cuidar para que haja coerência entre a
educação que se desenvolve no colégio e o que os pais ensinam em casa.
Essa consideração de que os
pais ocupam lugar de primazia na educação dos filhos não coloca a escola num
segundo plano na função educativa. Pelo contrário, as instituições que
reconhecem o papel da família, sem o que a formação que proporcionam não terá
eficácia, cuidam de desenvolver também uma educação voltada para os pais. As
imensas dificuldades que eles enfrentam em educar os filhos no mundo moderno
devem despertar as escolas para que passem a ajudá-los, dando-lhes
conhecimentos acerca de como devem atuar na formação dos filhos.
Não há dúvida de que ser pai
e mãe hoje implica em ser profissional da educação. Isso significa que têm de
se adiantarem aos problemas naturais de cada idade dos filhos. Por exemplo, é
muito comum que enfrentem dificuldades em fazer com que as crianças durmam
sozinhas nos primeiros anos de vida, assim como são muito frequentes as crises
de rebeldia na adolescência. Diante disso, a escola, como colaboradora da
família, deve estar preparada para dar formação aos pais, auxiliando-os com
conhecimentos técnicos e com um acompanhamento personalizado nessa difícil tarefa
de educar.
Em vários países há
instituições de ensino que têm adotado um programa que consiste em manter
contatos periódicos entre os pais e os professores. E isso ocorre não apenas
quando o filho quebra a vidraça do colégio, mas mesmo que não haja nenhum
problema aparente. Trata-se de reconhecer o que há de bom em cada aluno e, a
partir disso, traçar um plano pessoal de melhora, com atuações concretas a
serem implementadas em casa e na escola. Os resultados têm sido bem
interessantes.
Para isso é necessário,
porém, que se admita a importância dos pais na educação, e que a escola,
colaboradora desses, os ensinem a educar, atuando ambos coerentemente em uma
mesma direção.
Fonte:
Fábio Henrique Prado
de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e
Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC
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